sexta-feira, 24 de setembro de 2010

• O Monstro precisa de amigos

Antes de tudo, os meus agradecimentos aos Ornatos Violeta pela inspiração recebida para o título deste post, que é também o título de um dos seus melhores álbuns.

Um outro músico, este mais universal, John Lennon, teve um dia uma tirada engraçada, daquelas que nós gostamos de citar associadas a celebridades que nos são queridas. Vociferou ele assim, numa entrevista na TV, creio eu: "Ninguém faz amigos depois dos trinta. Ok, vá lá talvez depois dos quarenta...".

Eu vou fazer cinquenta anos certos daqui a 35 dias e algumas horas* e não conheço outros seres humanos a quem possa classificar como amigos hoje em dia. O meu único amigo é a minha muito querida namorada e companheira, com a qual eu e ela julgo ser um só.

É certo que não  posso ser demasiado ingrato com os deuses porque tenho uma mãe que é uma grande mulher.

Também tenho uma filha, que está a entrar na maioridade, que me enche de orgulho e que julgo vai continuar a fazer por mim neste mundo o que é suposto eu fazer, quando já não o puder fazer e quando souber qual é mesmo a minha missão nesta terra.

Quanto à minha namorada e companheira, a minha Michelle Obama, já aqui num post anterior teci os maiores elogios que um homem reconhecido pode dedicar á outra metade de si.

Já como filho do meu pai, sou deficitário. Não tenho nem uma boa nem uma má relação com o meu pai. Simplesmente não temos proximidade. Não me encontrava com o meu pai há cerca de 12 (doze) anos a esta parte e fui visitá-lo no seu aniversário, condicionado pela minha filhota e sua neta, no passado mês de Maio. E desde então não reatei outro encontro com ele, embora tenhamos feito essa vã promessa mutuamente. Porque eu sou um vulgarmente denominado "bicho do mato".

Desencanto-me de uma forma demasiado fácil ou leviana com as minhas antigas amizades. E já tive amigos e amigas de grande valia, creiam-me. Desde personalidades que farão parte da história da sua nação um dia até seres anónimos e humildes mas sempre de uma grandeza de alma enorme. Senão, também não me teriam cativado.

A minha vida social é hoje em dia nula. Até um presodiário que tenha passado os últimos dez anos na solitária e a quem tenha sido restítuida recentemente a liberdade terá uma vida social mais rica que a minha.

Eu simplesmente não saio nem com colegas de trabalho, nem com familiares nem com antigos amigos de escola ou do bairro onde cresci. Nada. Sou muito centrado em mim mesmo. Iludo-me com a mania de que sou grande e consolo-me com a velha máxima "it's lonely at the top".

Aprecio talvez demasiado os momentos de solidão que anseio por ter tanta vez. Mas depois nesses momentos, julgo que não me importava nada de me acontecer o sortudo acaso de esbarrar com a minha alma gêmea, assim como que obedecendo a um destino que já estará escrito para cada um de nós.

E talvez isso até já me tenha sucedido e eu, invariável cego e tonto, não reconheci o que o destino me presenteava.

Estou agora mesmo num Centro de Saúde, aguardando minha mãe que está num gabinete a receber tratamento a uma crise de labirintite, que lhe perturba a função do equilíbrio corporal. Moléstia que nela se anda a manifestar com frequência nso últimos tempos. A enfermeira pediu-me para esperar numa sala que tem justamente esse nome e função: de espera. E à minha esquerda está uma mulher de aparência sã mas que chora contidamente, quase em silêncio ou em meditação. E eu feito parvo, aqui teclando a falar de mim e sem sequer lhe perguntar se por ela poderia algo fazer. Esperem só um pouco, com vossa licença vou parar um pouco...

(...)

Salvo pelo gongo! Enquanto ganhava coragem para vencer a minha timidez, a chorosa senhora foi chamada pela instalação sonora para comparecer no gabinete onde o seu médico tinha agora uns generosos minutos para observar o seu caso clínico ou humano. Está agora nas mãos de quem a pode melhor ajudar.

Lá perdi a ocasião mais uma vez de poder fazer um amigo ajudando uma pessoa cujos sinais exteriores clamavam por esse gesto.

Mas não faz mal.

Vou tomar uma daquelas resoluções com que os homens costumam focar-se quando sentem a proximidade de um marco temporal importante.

Até á data que aí vem em que prefazerei o meu meio século, vou conquistar e cativar meio mundo para meus amigos.


* Nasci em Lisboa, Portugal, aos vinte e nove dias do mês de Outubro do anno da graça de mil novecentos e sessenta, tendo terminado a travessia do canal com a luz ao fundo dizem-me que mais ou menos às 7h25m dessa radiosa manhã. E desde então que não descobri ainda o que p'ráqui ando a fazer no meio dos humanos. Entretanto, vou procurando ajudar aquelas pessoas a quem amo ou que julgo merecerem o meu tempo a elas dedicado.

2 comentários:

Anónimo disse...

És curioso, muito curioso! No sentido de original, entenda-se!

Luísa BS

Giuseppe Pietrini disse...

cara Luísa BS,

Já te agradeci num email que te enviei mas volto a dizê-lo: "Obrigado pelas tuas ternas palavras, que me dão força para continuar o meu caminho".

Ainda bem que te sentisses livre para postar os teus valiosos comentários neste meu blog. Visita também os outros se te aprouver, sff.

Beijim
Giuseppe Pietrini