terça-feira, 31 de janeiro de 2012

• Harém ou alcova

Sometimes it's good to be the king, costumam dizer os britânicos…

E poderia também ser esse o desabafo de um qualquer sultão dessa longínqua Istanbul. Aquando se encontrasse refugiado de agruras de calores estivais com abanicos de penugem de avestruz, agitados por miríades das suas odaliscas, dispostas em seu redor. Dolcíssimas fêmeas, qual sereias encantadas, tão abnegadamente devotadas as vidas delas a sua magnífica alteza.

Alguns de nós, homens, se não quiçá todos, já terão sonhado estar na pele desse sortudo sultão, quando pela primeira vez se tiverem vistos confrontados com o conhecimento dessa realidade. De que existiram em tempos que já lá vão no próximo Oriente esses viris paraísos terrestres a que os otomanos chamavam de haréns.

Eu também já terei querido ter esses sonhos… Mal avisado andava. Hoje vejo mais além.

E sei que o pobre diabo desse sultão era bem capaz de experimentar amargos momentos de uma profunda solidão. Mesmo que mergulhado num cálido banho de sereníssima luxúria e carinhos mil, que uma dúzia ao quadrado de jovens e esbeltas mulheres de seios fartos e generosamente desnudos em sua deliciosa alvura lhe dedicassem.

Isto porque porventura uma só dama lhe fizesse sentir no espírito e na carne a dor teimosamente persistente da sua falta. Aquela a quem sabia que de tudo podia contar a ela da sua alma profunda. No mais recôndito dos aposentos do seu palácio. Onde coubessem só os dois. 

Ele e a sua favorita. A única que lhe importa.

Naquela simples alcova, a mais despojada de luxos, reduzidos a banalidades em face da divina felicidade recebida no encontro das duas caras-metade.

É isto o que eu hoje sei. Ao fim destes anos todos em que a minha vã masculinidade fui andando a pôr infantilmente à prova. 

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