quinta-feira, 31 de outubro de 2013

• O meu aniversário

Faz agora quase quarenta e oito horas que venceu o quinquagésimo terceiro aniversário da minha existência. Não tinha ainda decorrido nem um quarto de hora depois das zero horas desse dia que houve logo alguém que me lembrou que essa data chegara, com um sorriso na voz, vinda de longe.

Hoje mesmo passam também três anos que a minha vida mudou. Eu não o queria ver então. Mas eu vivia num marasmo.

Dois dias após o meu meio século de vida, há três anos atrás, eu iniciei um doloroso processo de purificação. Eu comecei então a chorar uma perda. A perda da minha vida futura, que eu julgava já a ter toda arrumadinha. Hoje reconheço que só perdi uma ilusão.

Naquela época tão adormecido andava que acreditava que tinha algo. E afinal o que eu julgava meu já não o era havia um ror de anos. Se é que alguma vez o foi. Tão depressa se esfumou a dita ilusão.

Se alguma coisa eu tinha, isso afinal não passava de um belo dum castelo de cartas. Condenado à partida a ruir, mais tarde ou mais cedo. E reflectindo bem, eu acho que sempre o soube.

Foi fácil ir cedendo à tentação de deixar de acreditar em amores eternos. Ou em qualquer paixão menos perene. Mas nunca cedi totalmente. E hoje digo: ainda bem.

With a little help from my friends, quase exclusivamente de novas amizades que nasceram após o meu renascimento - e só por causa deste - lá me fui reerguendo.

E desde há mais de um ano que uma destas amizades redundou no sentimento mais puro que julgo alguma vez vivenciei. Uma amizade à distância com alguém a quem eu quero muito bem. Mas a quem não posso hoje amar. Que tenho medo ainda de amar. E se não dou rédea solta ao meu coração é por exclusiva e talvez zelosa prudência minha.

A verdade é que esta amizade encerra em si algo que pode não ser completamente benéfico. Que é a sensação de não precisar de mais nada hoje em dia. Atingi uma zona de conforto onde me sinto bem. Que me faz abandonar ambições de voar para céus mais elevados, como Ícaro fez.

E se calhar é melhor assim. Aqui neste patamar ao menos não me cairão as asas. Nem as minhas nem as de mais ninguém que eu comigo arrastasse.

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